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A História do crack

A história do crack é bem nebulosa, pois, por ser uma droga extremamente marginalizada, é muito difícil de identificar suas origens.

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A primeira aparição do crack de que se tem registro ocorreu nos Estados unidos durante o boom do uso de cocaína no anos 70, e se popularizou nos anos 80, principalmente nas áreas costais e entre minorias étnicas e linguísticas, como imigrantes hispânicos e negros. Essa forma de cocaína, quebrada em pequenas pedras, podia ser vendida em quantidades menores, para mais pessoas, gerando um maior lucro. É uma droga mais barata e mais simples de produzir do que a cocaína. Além disso, é fácil de usar e é altamente lucrativa para os traficantes, por conta da fissura intensa que produz nos usuários, que tem um desejo insaciável por uma nova dose.

Em geral, os usuários de crack eram em maioria jovens, muitas vezes usuários de cocaína atraídos por seu baixo custo. Usuários de cocaína intravenosa também passaram a optar pelo crack após o surto da aids, por ser uma via de administração mais segura, que não diminuía a intensidade dos efeitos da droga. O baixo preço do crack também atraiu muitos consumidores das classes sociais mais baixas. Os Estados Unidos foram o maior mercado consumidor de crack por décadas. 

A história do crack nos Estados Unidos também é famosa por sua forte relação com o racismo estrutural da "Guerra às Drogas", na qual a população negra carcerária norte americana subiu muito, justificada pelo uso de crack nas comunidades negras mais pobres até os anos 90. 

 

 

 

 

Para saber mais sobre a política da "Guerra às Drogas" nos Estados Unidos, assista esse vídeo produzido pela Drug Policy Alliance e por Jay-Z!

 

 

 

 

No Brasil, os primeiros registros da droga ocorreram no ano de 1990, em São Paulo, (data que coincide com o surgimento da cracolândia), e datam até o ano de 1996. Assim como nos Estados Unidos, o crack surgiu como uma alternativa mais barata em relação à cocaína, fazendo com que ele rapidamente se espalhasse em meio às populações mais pobres, e também foi visto como alternativa para aqueles que se preocupavam com as chances de contaminação de HIV, via cocaína injetada. 

Nos anos 2000, instituições ligadas à infância e à imprensa anunciaram uma provável diminuição do consumo de crack em São Paulo, como ocorreu em países como a Inglaterra e os Estados Unidos, que investiram em pesquisa e políticas públicas. Porém, o oposto ocorreu: o consumo da droga quase dobrou. Agora, os motivos dos usuários para o consumo se alteraram. Enquanto em meados dos anos 1990, a justificativa mais comum era a da "busca por sensação de prazer", no final da década o consumo era impulsionada por compulsão, dependência, ou como forma de lidar com os problemas familiares e frustrações. 

Nunca existiram políticas públicas específicas para o manejo do uso de crack, apesar da crescente demanda por tratamento em decorrência da droga. Assim, enquanto os agentes de saúde simplesmente esperavam "o surto passar" milagrosamente, como ocorreu em outros países, o consumo de crack só se intensificou e começou a admitir novas facetas, como a associação entre o uso de crack e a infecção pelo vírus da Aids, a violência entre os usuários, a relação entre o consumo e a prostituição, sem falar no grau de concentração de usuários na região da Cracolândia. 

Atualmente, O Brasil constitui o maior mercado consumidor de cocaína da América do Sul: há mais de 900 mil usuários no país. O perfil dos consumidores é caracterizado por serem jovens, desempregados, com baixa escolaridade e baixo poder aquisitivo, com histórico familiar desestruturado, antecedentes de uso de outras drogas e comportamento sexual de risco. Como já discutimos na página sobre o TRATAMENTO , esses múltiplos fatores de risco aos quais os usuários de crack estão normalmente expostos dificulta em muito o seu tratamento, tornando necessárias abordagens mais diversas e intensas. 

Um outro grande problema para a adesão ao tratamento é o fato de que, historicamente, o consumo de crack não é reconhecido como um problema social, sim passando direto para o status de ilegal. A criminalidade relacionada a essa droga, junto com os preconceitos que a cercam e a faltam de acesso à serviços de atendimento ainda são fatores de muito peso para os usuários de crack, e se as políticas brasileiras não forem direcionadas corretamente para a prevenção do consumo nessas populações e para uma abordagem mais efetiva do tratamento, a perspectiva é de que o consumo de crack seja um problema social e de saúde ainda por um grande tempo. 

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